Rapé Huni Kuin – Canela de Velho

O Rapé feito na Terra Indígena Igarapé do Caucho

O feitio do Rapé de Canela de Velho distribuído pela equipe do Medicina Sagrada acontece na aldeia Igarapé do Caucho, situada na terra indígena de mesmo nome, no município de Tarauacá, no estado do Acre. Nessa área residem, aproximadamente, 900 pessoas que compõem 187 famílias do grupo linguístico Pano.

Confira essa notícia sobre a edição do Projeto Cidadão realizada na Terra Indígena Igarapé do Caucho, em 2022.

O que vai no Rapé Canela de Velho

Dentre as plantas medicinais usadas para elaborar este Rapé Huni Kuin, destacam-se as cinzas da árvore conhecida popularmente como Canela de Velho e o Tabaco Sabiá.

Tabaco Sabiá

Esta variação da popular Nicotiana rustica é geralmente encontrada no formato de cordas para o uso na produção de medicinas indígenas, processo este que não ocorre naturalmente, mas é o resultado final de um processo que envolve a colheita, a secagem e a fermentação das folhas dessa planta, antes que cilindros de corda de tabaco sejam feitos à mão.

Por isso, é um ingrediente também chamado de tabaco corda ou tabaco em corda. Esses tipos de rapé, que levam essa variação de tabaco, são considerados particularmente potentes, e são comumente usados em cerimônias tradicionais de cura e rituais sagrados, uma vez que a cultura xamãnica explica que essa planta pode oferecer grande poder de cura tanto espiritual quanto física.

Canela de Velho

Já a Miconia albicans, uma planta rica em compostos bioativos (componentes presentes em animais, vegetais e medicamentos que ajudam na prevenção e no tratamento de certas doenças) como flavonóides, rutina, alfa-amirina e quercetina, acrescenta à mistura do rapé propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e analgésicas. Popularmente conhecida como Canela de Velho, é um ingrediente bastante utilizado na produção de tratementos naturais para reumatismo e artrose, uma vez que curandeiros nativos a apreciam pelos efeitos de alívio de dor, inchaço e inflamação de articulações.

Apesar de alguns de seus efeitos serem associados, também, à árvore chamada de Caneleiro (Cenostigma macrophyllum Tul), as sensações descritas pelos usuários de medicinas naturais que levam Canela de Velho são muito específicas e singulares. Alguns dos possíveis benefícios popularmente vinculados às cinzas dessa planta usada na medicina do rapé, bem como à outras partes, são: postergar sinais de envelhecimento precoce da pele, a prevenção de diabetes e de certos tipos de câncer, uma vez que seus componentes podem proteger as células contra o dano causado por radicais livres.

Para entender melhor o que é Rapé, acesse este link.

Quem são os Huni Kuin

Considerados a maior etnia do estado do Acre, também presentes no sul do Amazonas, a comunidade Huni Kuin é formada por mais de cem aldeias distribuídas pelos rios Breu, Envira, Humaitá, Jordão, Muru, Purus e Tarauacá. Há registros de comunidades desse grupo desde o pé dos Andes peruanos até a fronteira com o Brasil. O termo Huni Kuin, que significa “homens verdadeiros” ou “gente verdadeira”, serve para designar um conjunto de grupos indígenas pertencentes à família linguística Pano, e algumas vezes substitui o termo Kaxinawá, que também se refere à essa mesma comunidade.

Aspectos Culturais

A cultura da comunidade Huni Kuin é rica em rituais, como o Nixpupimá, um rito de iniciação dos Kaxinawá, que delimita o momento em que as crianças passam a ser diferenciados pelo seu gênero e se tornam aptos a iniciar nas tarefas e papéis designados a cada gênero. Esse ritual é considerado como uma espécie de “batismo” por alguns estudiosos que observaram os costumes desse povo. Há, também, o Katxanawá, ou o ritual da fertilidade, que pode acontecer diversas vezes durante o ano e envolve dança e canto, sendo uma cerimônia compartilhada entre ambos os gêneros dentro da comunidade. Txidin, Dau e cerimônias distintas de casamento também são algumas outras celebrações observadas.

Xamanismo

Para os Huni Kuin, o Xamanismo é um aspecto de dualidade. Há a crença de que os verdadeiros xamãs, chamados de Mukaya, já não mais existem, mas mesmo assim, membros da comunidade Kaxinawá praticam outras formas de xamanismo. Cada subgrupo aparenta preservar diferentes aspectos de práticas xamãnicas, mas um aspecto comum a todos os costumes do xamanismo Kaxinawá é a discrição com relação à capacidade de provocar cura ou causar doenças.

Você pode assistir esse vídeo e acessar esse link para aprender mais sobre os Huni Kuin.

Se quiser aprender como aplicar o Rapé em si mesmo, confira esse texto sobre o uso de Kuripes.