Não existe arte tão singular dentre os povos indígenas que habitam a fronteira peruana-brasileira do que a Kene Kuin, o ‘desenho verdadeiro’. Os grafismos desse povo são parte importante da identidade cultural da tribo Kaxinawá.
No post de hoje, vamos falar mais sobre o Kene Kuin, os grafismos do povo Huni Kuin, que habitam as envolturas dos rios Purus, Curanja, Tarauacá, Jordão, Breu, Muru, Envira, Humaitá e Purus, na Amazônia Ocidental.
O que são os Kenês Indígenas?
Os kene kuin, nome verdadeiro dos kenês, são conhecidos como “desenhos verdadeiros” ou “desenhos da cobra”. São um elemento de extrema importância da cultura e identidade do povo Huni Kuin. Estão relacionados à coragem, força, poder e sabedoria.
Para os Kaxinawá, como são conhecidos os Huni Kuin, o desenho é um elemento crucial na beleza das pessoas e das coisas.
Os grafismos estão presentes em quase todas as manifestações artísticas e artefatos do povo, como cerâmicas, vestimentas, pinturas corporais, tecelagens, artesanatos.
Inclusive, o artesanato é uma das principais fontes de renda do povo Kaxinawá. Os principais produtos são as cerâmicas, feitas com argila de cinzas obtidas de animais e árvores, e a tecelagem em algodão com tingimento natural.
A origem dos kenês indígenas
Conta-se na história da origem do kenê Kaxinawá, que ele foi transmitido pelo encanto de uma jiboia. Essa jiboia ensinou uma mulher Kaxinawá sua linda malha de Yubesheni. Caminhando, ela encontrou um filhotezinho de jiboia enroladinho no meio do caminho.
Então a jiboia ensinou a sua força de malha dizendo:
– Mãe Kaxinawá se você quer minha roupa de malha vai pegar um talo de ouricuri…
Medindo cada malha e falando cada nome do kenê desenhando, ela cumpriu a fala de seu filho jiboia que começou a ensinar sua pintura tradicional.
O nome dessa jiboia no passado era Tere Beru. A jiboia foi quem entregou seu lindo kenê para a mulher Kaxinawá. Mas não entregou tudo. Ensinou só uma parte, porque a jiboia não era fêmea: era macho e não podia ficar com sua mãe Kaxinawá.
Ele queria caçar e guerrear com outras etnias.
Source: (Kaxinawá; Sales, 2000, p. 24)
A tecelagem Kenê
A tecelagem é uma das principais atividades dos Huni Kuin e sua principal característica são os grafismos kenês. Os processos vão desde o cultivo e preparo do algodão até a fiação e tingimento dos fios.
A produção dos kenês é uma atividade inteiramente feminina. As mulheres mais velhas são as mestras em tecelagem e durante o processo de colheita, descaroçamento, bater e fiar do algodão, elas cantam e pedem a força das aranhas para tecer rapidamente já que, segundo a tradição, a aranha plantava e já saía o fio pronto, sem precisar bater ou fiar.
O tingimento dos kenês é feito com corantes naturais, como o mogno, as cascas de árvores, o coração da bananeira e a cerejeira. Uma vez que o fio está tingido, a última etapa é a tecelagem, que será realizada conforme o kenê desejado.
Cada kenê (grafismo) pode se abrir para revelar diversos tipos de figuração (dami), pois dentro do desenho da serpente há muitos outros escondidos.
Na cultura Kaxinawá, os homens usam roupas com desenhos na vertical, e as mulheres, na horizontal.
O povo Huni Kuin também possuem uma forte conexão com os Japiins, chamados no idioma indígena de txana, pássaros que o povo considera mestres da tecelagem.
Conclusão
A comercialização do artesanato é uma importante fonte de renda sustentável para os povos indígenas. Além disso, é uma oportunidade de manter vivo o conhecimento que vem sendo passado de geração para geração e uma forma de mostrar a força das tradições e artes indígenas para o mundo.
Nossa forma de ajudar o povo que tanto nos dá e ensina diariamente com sua cultura e medicina sagrada é compartilhando conhecimento sobre suas tradições e fortalecendo sua fonte de renda sustentável.
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Fontes:
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Huni_Kuin_(Kaxinawá)
https://site.tucumbrasil.com/tecelagem-huni-kuin/
https://sacred-snuff.com/product-category/accesories/brazil-beads/
https://sacred-snuff.com/the-huni-kuin/
